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03 fevereiro 2010

Software Livre pode ser um caminho para o Brasil do futuro

Há dez anos atrás, éramos um grande número de entusiastas tentando explicar para as pessoas o que era Software Livre, sua importância e sua viabilidade comercial/financeira. Sempre a mesma ladainha, explicando as quatro liberdades, a importância de controlar o software que executa nas nossas máquinas (e nas máquinas que acessamos), os modelos de negócio possíveis e por aí vai.

Hoje nós continuamos tendo que explicar tudo isso, mas ao invés de falarmos ‘imagine que’, quando respondendo perguntas sobre ‘como ganhar dinheiro com Software Livre’, nós podemos apontar para um dos milhares de exemplos que já se aproveitam das vantagens do Software Livre e fazem dinheiro. Isso não impede que novas formas de apropriação da liberdade do software (como a maioria dos usos da “nuvem”) apareçam sempre, mas isso é assunto para outro post… voltemos ao assunto!

Infelizmente, nesses 10 anos, o Brasil aprendeu muito pouco sobre o que são de verdade o Software Livre e suas vantagens. E a maioria dos exemplos que há do aproveitamento das reais vantagens do SL estão fora daqui, muito embora por todos esses anos tenhamos sido conhecidos como líderes na área. Líderes de quê, afinal? Líderes de adoção – no Brasil de fato se usa muito Software Livre e isso gerou um mercado razoavelmente grande, com empresas que tradicionalmente não prestavam atenção a qualquer coisa que não fosse Windows se aproximando de alternativas livres. Mas basta olhar as notícias para ver a fixação com “custo” – é raríssimo ver uma notícia sobre SL no Brasil que não trate da adoção e da consequente economia de recursos advinda dela.

Esse é um bom passo que, pode-se argumentar, gerou conhecimento local, já que diversas empresas criaram experiência em fornecer “soluções” com Software Livre. Mas, sejamos honestos: a maior parte das iniciativas locais de desenvolvimento girou sempre em torno da criação de “distribuições”. Distribuições tão mal-feitas e mal-mantidas que são feitas simplesmente com remasterização de CDs, sem sequer um repositório adequado de software e manutenção adequada, como acontece com as distribuições de verdade. Fazer mais e mais distribuições é um jeito estranho de desviar o olhar do fato de que nós não produzimos quase nada do que usamos no que diz respeito a software básico. Mas nós adoramos tascar um ‘100% brasileiro’ vai saber por que razão.

Nossos 21 desenvolvedores estão muito concentrados e são poucos perto dos 108 da França, que é menor que Minas Gerais em tamanho e população!
Como sempre, nos entregamos à nossa vocação de consumidores e montadores – sempre fazemos festa quando uma grande empresa abre uma fábrica por aqui, porque gera-se milhares de empregos, mas onde estão as nossas empresas que projetam e desenvolvem o que será montado, afinal? O Brasil tem profissionais com competência em tecnologias livres que estão conseguindo se desenvolver sem ter que sair do país? Quantos kernel hackers nós temos e estamos gerando? Quantos brasileiros estão envolvidos nas tecnologias de ponta para sistemas móveis? Quantos brasileiros com experiência no código do Firefox ou do OpenOffice temos? Não poderíamos já ter financiado o desenvolvimento de funcionalidades importantes, com geração de conhecimento local e estarmos prestando consultoria de desenvolvimento nessas bases de código?

O código e o conhecimento estão disponíveis: é só pegar e usar! Por que não estamos dando um jeito de incentivar o desenvolvimento tecnológico local e nos dando por satisfeitos com uso? É esse o momento de usar a oportunidade para criar uma elite técnica local, incentivar a criação de empresas locais e tentar conter a evasão de mais e mais brasileiros que não encontram oportunidades para usar suas qualidades por aqui e acabam indo pra fora.

Eu estou pronto para parar de ouvir o blablabla de adoção dos últimos 10 anos e começar a ler notícias sobre como o Brasil está revolucionando sua base tecnológica com produção de hardware e software de qualidade, nos próximos 10. Eu também estou pronto para parar de ver amigos irem embora por falta de trabalho que valorize adequadamente suas qualidades por aqui. É hora de Software Livre deixar de ser uma experiência inovadora de uso e passar a ser a porta de entrada de um novo Brasil que também produz tecnologia.

PS: o Brasil é líder no desenvolvimento de diversas tecnologias, e há iniciativas relacionadas a SL que chegam a me emocionar pela sua qualidade – voltarei ao assunto mais tarde para tratar delas. A questão é que o que existe é mínimo, e há muito para fazer.


Por kov
http://www.trezentos.blog.br/


(Matéria enviada por Josiel Galvão, leitor deste ESPAÇO LIVRE)

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